sábado, 26 de maio de 2007

Elogio ao Amor


"Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há. Estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia...
Já ninguém se apaixona? Já ninguém
aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?
O amor não é para ser uma
ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental".
O amor
fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto.
O amor puro não é um
meio,não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende.
O amor é uma
verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não está lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber.
É sinal de
amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir.
A
vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a Vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."
Miguel Esteves Cardoso

terça-feira, 22 de maio de 2007

Sem palavras...




«O meu nome é "Sara".
Tenho 3 anos.
Os meus olhos estão inchados.
Não consigo ver.

Eu devo ser estúpida.
Eu devo ser má.
O que mais poderia pôr o meu pai em tal estado?

Eu gostaria de ser melhor.
Gostaria de ser menos feia.
Então, talvez a minha mãe me viesse sempre dar miminhos.

Eu não posso falar.
Eu não posso fazer asneiras, senão fico trancada todo o dia.

Quando eu acordo estou sozinha.
A casa está escura.
Os meus pais não estão em casa.

Quando a minha mãe chega, eu tento ser amável.
Senão eu talvez levaria uma chicotada à noite.

Não faças barulho!
Acabo de ouvir um carro.
O meu pai chega do bar do Carlos.
Ouço-o dizer palavrões.

Ele chama-me.
Eu aperto-me contra o muro.
Tento-me esconder dos seus olhos demoníacos.

Tenho tanto medo agora.
Começo a chorar.
Ele encontra-me a chorar.
Ele atira-me com palavras más.
Ele diz que a culpa é minha, que ele sofra no trabalho.

Ele esbofeteia-me e bate-me.
E berra comigo ainda mais.

Eu liberto-me finalmente e corro até à porta.
Ele já a trancou.
Eu enrolo-me toda em bola.
Ele agarra em mim e lança-me contra o muro.
Eu caio no chão com os meus ossos quase partidos.
E o meu dia continua com horríveis palavras...

"Eu lamento muito!", eu grito.
Mas já é tarde de mais.
O seu rosto tornou-se num ódio inimaginável.
O mal e as feridas mais e mais.

"Meu Deus por favor, tenha piedade!
Faz com que isto acabe por favor!"
E finalmente ele pára, e vai para a porta.
Enquanto eu fico deitada, imóvel no chão.

O meu nome é "Sara".
Tenho 3 anos.
Esta noite o meu pai matou-me.»

Parem com isto, por favor! Não tenho mais nada para dizer...

domingo, 20 de maio de 2007

Coração de Lata

"And remember, my sentimental friend,

that a heart is not judged by how much you love,

but by how much you are loved by others."

O Feiticeiro para o Homem de Lata in "The Wizard of Oz"

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Coisas VS Pessoas


Se as coisas foram feitas para serem usadas e as pessoas para serem amadas, porque amamos as coisas e usamos as pessoas?!

sexta-feira, 4 de maio de 2007

Breve Instante...


Hoje acordei com os teus passos.

Caminhavas dentro de mim,
Impaciente com o meu sono.
Dizias que te deixei partir...
E eu perdi-me no medo que tivesses razão!

Não viste que sou tanto de ti...
O chão que pisavas
Eram sonhos traçados por mim.
Enconstraste segredos guardados
Que acreditavas não existirem.

E aí, quando vieste na minha direcção,
Com a ansiedade de um abraço
E os sentimentos nas duas mãos,
Deste conta que a vida é um breve instante.

Nesse momento, o meu sorriso agarrou-te os braços,
Marcou-os com vontade de não ser esquecido
Beijou-te de meiguice o receio dentro de ti,
E ouviste-me dizer, sussurrando:
Mata-me a saudade, agarra-me para sempre...

in "As Palavras dos Sentimentos" de Conceição Martins