quarta-feira, 22 de fevereiro de 2006

Junta os Dons do Espírito às Vantagens do Corpo



Para ser amado, sê amável, para o que não bastará a beleza do rosto ou do corpo. Se pretendes conservar a tua amiga e não teres nunca a surpresa de ser abandonado, mesmo que sejas Nireu, amado pelo velho Homero, ou o Hilas de delicada beleza que as Náiades raptaram por meio de um crime, junta os dons do espírito às vantagens do corpo. A beleza é um bem muito frágil, tudo o que se acrescenta aos anos a diminui, murcha com a própria duração. As violetas e os lírios com as suas corolas abertas não florescem sempre; e na rosa, depois de caída, só o espinho permanece. Também tu, belo adolescente, cedo conhecerás cabelos brancos, cedo conhecerás as rugas que sulcam o teu corpo. Forma desde já um espírito que dure e fortalece a beleza; só ele subsiste até à fogueira fúnebre.

Ovídio, in 'A Arte de Amar'

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006

Um Mar de Emoções




E eis que no meio do nada que se constituiu a vida, surge a flor, a semente que vai fazer com que comeces a correr sem saber para onde... Acordas de manhã a sorrir, e olhas ao espelho concretizando essa vontade ali mesmo. Quando dás conta, já cantas no meio da rua, baixinho para que todos ouçam mas ninguém entenda que o que estás a cantar é a melodia que vive no teu coração.
Trauteias frases, palavras que pensavas não existirem jamais no teu vocabulário, e usa-as com a sabedoria que acordou contigo, sabes lá como. Sentes constantemente um raio que te atravessa o peito, quando tal razão te fala. Conversa contigo calmamente, com uma voz suave e meiga, de quem sente a tua falta, mesmo estando perto de ti. Basta desviares o olhar. A mão eleva-se e faz retomar a tua face de novo em direcção à sua...
Os segundos parecem bater forte em cada pulsação do teu corpo, fazendo passar o tempo sobre ti como se fosse o mundo a desmoronar.
Talvez seja assim, que se tente definir as transformações que um sentimento tem em nós. Damo-nos conta que alteramos a nossa rotina, em função do nosso querer e da nossa vontade. A saudade é algo invocado que aperta e te tira o ar, como se te quisesse matar. Simultaneamente, quando estas perante tal presença, o entusiasmo provoca-te um descontrolo das emoções. Queres abraçar, tocar, sentir, ver, apreciar...
Tudo isto faz parte das nossas vibrações. Quando gosto de algo, esse só durará se me fizer vibrar verdadeiramente. Se sentir dentro de mim o extremo de um sorriso, a incontornável reacção de uma surpresa.
O instinto e a razão lado a lado sem disputarem um prémio que não vai surgir. Para estes estarem assim, um tesouro muito valioso entrou na tua vida. E já existe em ti...
Respiras com proximidade, e o simples gesto de suspirar faz-te vibrar. O abraçar torna-se uma constante de desejo, mergulhas num mar de sensações. Tens de lutar para nunca te afogares.
Não consigo explicar...

domingo, 5 de fevereiro de 2006

Um Rascunho Do Que Sentimos




Existe um olhar... Existe uma sensação... Não sabemos interpreta-la no momento. Mas se, por acaso, a seguir a esse olhar vierem outros mais, com mais ansiedade esperamos. E somos constantemente alimentados por aquela presença que nos ilude.
Após alguns momentos inconscientes de extrema felicidade, paramos. É como quando subimos bem alto e temos necessidade de olhar para baixo. Por consequência, imaginamos e quase sentimos o que aconteceria se caíssemos. Receamos a mágoa... Recordamos que já nos aconteceu algo semelhante, algo que não queremos que se repita. Perdemos as forças para continuar a subir.
Um peso na consciência diz-nos que temos de analisar a situação. Abrir a folha do nosso coração e da nossa cabeça em cima da mesa e decifrá-la, como se de um mapa se tratasse. Começamos por ver se existe realmente um objectivo, um "lugar" a alcançar com a pessoa. Se não o encontramos, a desistencia aparece como alternativa ao desafio. Mas se olharmos bem, se a vontade for verdadeira, conseguiremos chegar à conclusão de que não interessa o objectivo mas sim os caminhos que percorremos. Será que queremos chegar realmente a algum lugar? Uma relação não perderá o sentido se alcançar uma finalidade? Como
a própria palavra significa, chegaria também a um final. Já não haveria motivos para lutar, vontade de continuar...
O lugar onde queremos chegar tem de ser infinito, inalcansável...
E como Hansel & Gretel, será de nossa responsabilidade colocarmos um doce em cada momento que nos fizer sorrir para que, por cada vez que a estrada se torne agreste e inconstante, possamos voltar a saborear a doçura e ternura que conservamos em nós. Se o doce provado, novamente, conseguir eliminar quase por completo o sabor amargo, vale a pena continuar... Não convém pegar num papel e tentar desenhar por onde gostaríamos de passar. Certo é pegar na mão da pessoa e levá-la; construir um caminho sólido e de paisagem bonita para conseguir passar por lá. Porque quando tentamos explicar ou planificar algo que está no nosso coração, acabamos por lhe retirar a magia e o mistério que tanto o caracteriza. Viver, em vez de planear e não cumprir. Amar para ser feliz, e não ser feliz para conseguir Amar... Tem lógica podermos agir assim, mas não sabemos explicar o porquê de termos sempre de fazer um rascunho dos nossos sentimentos. A segurança está no que realizamos e não no que esboçamos... A segurança está onde menos a esperamos: num abraço que nos segura, num beijo que nos prende, num dar as mãos forte o suficiente para não largar mais. O resto é segredo. Não vale tentarmos desvendar o mistério que foi feito para ser assim. O fascínio está mesmo no facto do Amor ser indecifrável e sem rascunho possível que defina o caminho para a ele chegar...